Dirce balança

Motel Parador. 4 da manhã. Uma nota de cinco mangos na carteira e o reflexo das luzes de neon pelas frestas da janela. Vodka vagabunda no cantil. Dirce balançava pra frente e pra trás. Chack Chack Chack Chack. Mais três minutos. Os melhores da vida de qualquer um. Um estampido. Uma cachoeira ininterrupta numa blue note. A coisa ia bem. Sem delongas.

Ela, esposa de um professor de escola particular pagador de impostos. Eu, uma irremediável mistura de Tom Waits e John Lee Hooker depois de duas ou três garrafas e uma dedada de leve. Acendi um cigarro e fiquei olhando para o teto. Sentia o chiado no peito em cada baforada.

– Não costumo fazer isso – disse ela cheia de pudor.

Peguei o cantil e dei uma golada. Era uma foda. Sem amor e ressentimentos. Uma foda. Só.

– Eu também não. Geralmente experimento um golden shower de cara – respondi.

Ela continuou com o blá blá blá. Falou sobre o marido brocha e os filhos bons alunos. E eu que nunca me achei capacitado pra CVV. Dirce continuava a ladainha: – Porra, Valadão. Tá parecendo que você não está interessado em me ouvir.

Vesti as calças.

– Tô super interessado. Você manda super bem nesse assunto. Continua na moral.

Ela prosseguia. A coisa ia longe, sem pontuação. Num fôlego, apenas. Abri a carteira e sentenciei:

– Mas ai… você paga a conta?


Texto integrante da obra inédita “O dia que não atirei na cara do meu melhor amigo”.


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