As tardes de outono são deliciosas. O clima ameno, o céu de um azul límpido, quase sempre sem nuvens, e um por do sol resplandecente. Curto as tardes de outono, mas me reporto aos meus tempos de menina, quando era tranquilo andar pelas ruas e usufruir toda beleza, toda paz do cair da tarde. E, no passeio, nessas tardes, era possível sentir os odores da preparação do jantar que vinha do interior das casas. Minha imaginação chegava ao recôndito dessas moradias e sentia a vida, ali, acontecendo.
Algumas vezes passei pelo pequeno portão sem travas da casa da minha avó, atravessava o corredor e chegava até a cozinha. À mesa, fumegante e cheirosa, uma terrina de sopa, linguiça frita e muito pão, como manda a tradição da família italiana. Era bom juntar-me aos meus tios e primos ao redor daquela mesa. Sentia-me orgulhosa e feliz por estar entre os meus. E o que ficou na minha memória não foi o sabor dessa refeição, mas a delícia do momento, o amor traduzido num prato de sopa, quentinha, suculenta e generosa.
Lembro-me da felicidade da minha nona. Da mesma forma, na casa de meus pais, a felicidade da minha mãe ao ter os seus reunidos para o jantar, depois do trabalho, da escola, enfim, dos afazeres que findos nos levam de volta para casa ao término de mais um dia.
Hoje, ao passarmos pelas ruas, não é mais possível sentir os odores da preparação do jantar no interior das residências e, talvez, a reunião em volta de uma mesa fique restrita aos finais de semana. Os rituais são outros, mas a força do amor permanece. Estamos sempre voltando ou esperando a volta daqueles que amamos e o aconchego tem cheiro, cor, sabor, calor…
Célia Maria Cestaro Christofoletti, assistente social, já em descanso da função. Formada em 1975, atuou por mais de 28 anos na Prefeitura Municipal de Rio Claro, à frente da Secretaria de Ação Social. Leitora apaixonada, reserva seu tempo hoje ao autocuidado e ao serviço voluntariado. É integrante da Sociedade Vozes Literárias, vinculada à Alerc-SP.
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