Onze primaveras

A vida da garota Stella sempre foi cheia de sonhos e expectativas. Desde pequena, ouvia sua mãe e todos ao seu redor falando sobre como ela estava crescendo rápido, realmente sempre foi maior que as colegas, mas agora não era em estatura e sim em desenvolvimento, e já era nítido que logo deixaria de ser uma garotinha para se tornar uma jovem e com a idade novas responsabilidades. Para ela, completar onze anos era como atravessar uma ponte invisível, onde deixaria para trás algumas brincadeiras de infância e começaria a enxergar o mundo com outros olhos. Não era mais apenas uma criança, mas também não era adolescente. Estava no meio do caminho, e isso a assustava um pouco.  

Além do novo ciclo que sua idade marcava, havia outra mudança importante acontecendo: a escola. Não era a primeira vez desde que começara a estudar, que ela não estaria no mesmo colégio, mas desta vez era tudo novo, novos professores, novos amigos, novas descobertas e obviamente novos desafios, mas era sabido que a mudança foi feita acreditando que isso traria mais oportunidades para ela no futuro.  

Por fora, ela tentava fingir que estava tudo bem, mas a verdade era que sentia imenso receio. E se não conseguisse fazer amigos? E se não se adaptasse às novas regras? E meus amigos antigos? E minha rotina?

Na manhã de seu aniversário, que era uma segunda-feira, Stella acordou sentindo uma mistura de animação e nervosismo. O brilho do sol atravessava pela janela, iluminando sua cama, ainda com algumas sombras refletidas das árvores da Floresta nas frestas da cortina entre aberta, no quarto ainda estavam espalhados vestígios da infância: sua coleção de bichinhos de pelúcia, um desenho animado que ela gostava quando tinha oito anos, um diário com chave, que agora parecia infantil demais para ser usado, bonecas largadas no canto, pequenos papeluchos com anotações que só ela entendia.

Sua mãe, com muito carinho e amor, preparou o café da manhã, agradeceu a Deus por mais um dia e pela vida da aniversariante. Havia panquecas, frutas frescas e um bolo pequeno com o número 11 decorado em chantilly, além de um pouco de mel. Seu pai, um homem brincalhão, mas reservado, sorriu ao lhe entregar um envelope. Dentro, havia algumas notas já que nunca foi bom com presentes e uma carta escrita à mão:  

“Minha filha, você está crescendo. Hoje, você completa onze anos e, para mim, ainda parece que foi ontem que te segurei nos braços pela primeira vez, que te coloquei na cama e disse para sua mamãe: 

— E agora? Sei que mudanças podem ser difíceis, mas quero que saiba que sempre estarei aqui para você. Acredite em si. Você é mais forte do que imagina, em todos os sentidos. Parabéns por seu aniversário e por ser maravilhosa. Com amor, papai.”

Stella segurou o papel com força, tentando conter as lágrimas. Seu pai não era de escrever cartas. Aquilo significava muito para ela, sua irmã logo chegou e, vendo os seus olhos marejados, lhe deu um apertado e longo abraço, sem palavras ditas e sim sentidas com a alma.

Durante o dia, ela recebeu mensagens e ligações de amigos da escola antiga, além de dividir o dia com os novos amigos. Todos no contexto final diziam a mesma mensagem: “Você está crescendo tão rápido!” Mas será que realmente estava? No fundo, ainda se sentia a mesma garota de ontem. Gostava de dormir abraçada com sua almofada de abraço lilás que já era de segunda mão, ainda tinha medo de barulho e se perdia em devaneios sobre o futuro.  

No espelho, analisava seu reflexo. Seu rosto começava a mudar, os olhos carregavam uma curiosidade que antes não existia. Aos poucos, começava a compreender que crescer não era apenas uma questão de idade, mas sim de experiências e aprendizados, isso tudo somado ao desafio da Nova Escola, o primeiro dia ainda a estremecia e sua mente estava digerindo os acontecimentos que para um adulto eram simples, mas ela lembrava a todo momento. 

O uniforme diferente, os corredores eram mais claros do que estava acostumada, tudo parecia difícil, desde abrir um simples armário até se acostumar com as mudanças de salas. O barulho das vozes misturadas, os grupos de alunos que já se conheciam, os professores chamando os estudantes apressados… Naquele dia, Stella respirou fundo e segurou sua mochila com força.  

Na sala de aula, sentou-se sozinha nas primeiras carteiras. O primeiro professor pediu que ela se apresentasse e, com a voz um pouco hesitante, ela disse seu nome e de onde vinha. Alguns colegas sorriram para ela, mas ninguém veio falar logo de pronto.  

No intervalo, ficou perto da cantina, sem saber bem o que fazer. Então, uma menina de cabelos cacheados e óculos bonitos se aproximou e disse:  

— Você é nova aqui, né? Se apresentou e fez o convite. Quer lanchar comigo e minhas amigas?  

Stella sentiu um alívio imediato. — Quero, sim!  

A partir daquele momento, começou a perceber que a mudança talvez não fosse tão assustadora assim. Ela sentiria saudade da escola antiga, mas também poderia criar novas memórias.

Naquela noite, ao se deitar, Stella pensou no quanto havia mudado em tão pouco tempo. O aniversário, a nova escola… tudo parecia um turbilhão de novidades para serem organizadas em seu cérebro em construção constante. Mas agora, em vez de medo, sentia um pouco mais de confiança.  

Ela ainda tinha muito a aprender, muitos desafios para enfrentar, mas talvez crescer não fosse tão assustador quanto imaginava.  

Com um sorriso no rosto, pegou seu diário e escreveu:  

Hoje fiz uma nova amiga, tive um dia muito feliz. Acho que vou gostar daqui. No jantar, explicou tudo pormenorizado aos pais e à irmã sobre os acontecimentos do dia, onde uma frase simples se torna meia hora de divagações e, ao se deitar, dormiu sorrindo. No final de semana, estavam lá em sua festa, os amigos da escola antiga, os da nova, desconhecidos, todos felizes comemorando as 11 primaveras de uma menina moça que logo se tornará uma destemida mulher.


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