Analfabeta

permito que os nossos corpos
debrucem sobre a melancólica pedra do esquecimento
desnudados de ilusões e da tentação lasciva do efêmero
o que foi passado é canto de rouxinol, para servir de alento
ao meu insaciável apetite de emoções,estética e ética

eu que sou analfabeta
dos caminhos que traçam os corações dos homens
dos caminhos que traçam os corações dos animais
não sei lapidar pedras, nem lascar pedras, nem lavrar pedras
fico só a contemplar o pálido mármore

se jogar o lápis fora, torno-me também pedras
e antes que tais estranhos momentos
levem candelabros para os muem-bote.
(segundo os budistas: espíritos inquietos sem parentes para enterrá-los)
o líquido vermelho tinto escorregará na ponta enferrujada da ferramenta


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.