A situação atual do setor de casamento e divórcio continua sendo marcada por grandes transformações impulsionadas por diversos fatores sociais, culturais e legais. Observa-se um declínio no número de casamentos em muitos países, incluindo o Brasil. As pessoas estão se casando mais tarde na vida, optando por construir suas carreiras e alcançar estabilidade financeira antes de se comprometerem.
Paralelamente, a taxa de divórcios tem aumentado em muitos países, refletindo as mudanças nas expectativas em relação ao casamento e às relações de casal. O processo de divórcio se tornou mais simples e menos burocrático, com a possibilidade de divórcio consensual e sem a necessidade de ir a juízo em muitos casos. Diversos países têm atualizado suas leis de família para atender às novas realidades, como o divórcio unilateral e a divisão de bens mais equitativa.
A mesma facilidade que temos para a união, temos para separação, não é apenas uma sensação de fluidez, de facilidade, é uma realidade que tem trazido diversas mudanças comportamentais para dentro das relações intimas.
Seria um problema da falta de habilidade em amar? Amar seria então algo inato ou é necessário aprendizado? Mas amor seria apenas um sentimento ou algo mais complexo?
Erich Fromm, em sua obra “A Arte de Amar”, nos convida a uma profunda reflexão sobre a natureza do amor, desvendando os mitos e as complexidades que envolvem essa experiência universal. O autor, com sua perspicácia característica, nos apresenta uma visão do amor que transcende o romantismo superficial e nos convida a uma jornada de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
Uma das principais contribuições de Fromm é a desmistificação do amor como um mero sentimento. Para ele, o amor é uma arte que precisa ser cultivada e aprendida
Fromm contrapõe o amor maduro, a formas de amor mais imaturas e egocêntricas, como o amor simbiótico (baseado na dependência), o amor narcisista (focado na própria imagem) e o amor explorador (que busca apenas a satisfação pessoal). A distinção entre amor maduro e imaturo, é fundamental para compreendermos as nuances das relações humanas.
Amor Simbiótico– Baseado em uma profunda dependência emocional, o amor simbiótico se caracteriza pela fusão entre os parceiros, onde a individualidade se dissolve. A necessidade de estar constantemente junto e a incapacidade de funcionar de forma independente são marcas desse tipo de amor.
Amor Narcisista – O amor narcisista se concentra na própria imagem e nas próprias necessidades. O parceiro é visto como uma extensão de si mesmo e é utilizado para aumentar a autoestima e o ego do indivíduo.
Amor Explorador – O amor explorador se baseia na busca por satisfação pessoal e vantagens. O parceiro é visto como um meio para se alcançar um fim, como status social, segurança financeira ou prazer sexual.
O amor maduro promove relações mais equilibradas, respeitosas e duradouras. Ao se envolver em um amor assim, ambos os parceiros podem se desenvolver e crescer como indivíduos, pois ele nos proporciona um senso de segurança, pertencimento e felicidade. No entanto, diversos obstáculos podem surgir no caminho, impedindo a construção de relacionamentos saudáveis e duradouros, como o medo da intimidade, a necessidade de submissão e dominação, o isolamento e a alienação, e o narcisismo e egocentrismo.
Medo da Intimidade – é a resistência em se conectar profundamente com outra pessoa, por medo de se machucar, perder a independência ou revelar partes vulneráveis de si mesmo. As causas podem estar ligadas a experiências passadas de rejeição, traição ou abandono e como consequências surgem as relações superficiais e a busca por parceiros que mantenham uma distância emocional. Para superar é preciso terapia, autoconhecimento e a construção de relações de confiança com amigos e familiares podem ajudar a superar esse medo.
Necessidade de Submissão e Dominação – a necessidade de controlar ou ser controlado em um relacionamento pode criar um desequilíbrio de poder e impedir a construção de uma parceria igualitária. As causas podem ser inseguranças, baixa autoestima e experiências de infância e como consequências surgem os conflitos constantes, falta de respeito mútuo e a dificuldade em expressar os próprios sentimentos. Para superar é preciso desenvolver a assertividade, trabalhar a autoestima e buscar a igualdade nas relações.
Isolamento e Alienação – se referem à dificuldade em estabelecer conexões sociais significativas, o que pode dificultar a construção de relacionamentos amorosos. As causas podem estar ligadas a traumatizações passadas, dificuldades em confiar nos outros e a preferência por atividades solitárias. Como consequências surgem os sentimentos de solidão, dificuldade em construir intimidade e uma visão negativa das relações. Para superar é preciso participar de atividades sociais, buscar terapia e desenvolver habilidades de comunicação.
Narcisismo e Egocentrismo – se caracterizam por uma excessiva preocupação consigo mesmo e pela dificuldade em se colocar no lugar do outro. As causas podem ser fatores genéticos, experiências de infância e a cultura do individualismo que podem contribuir para o desenvolvimento dessas características. Como consequências temos dificuldade em construir empatia, relações superficiais e a tendência a manipular os outros. Para superar é preciso aprender a desenvolver a empatia, praticar a gratidão e buscar ajuda profissional.
Erich Fromm (1900-1980) foi um psicanalista, sociólogo e filósofo alemão que deixou uma marca significativa na psicologia e nas ciências sociais do século XX. Sua obra, marcada por uma profunda preocupação com a condição humana e as relações sociais. Ele viveu em um período de grandes transformações sociais e políticas, marcado pela ascensão do nazismo e pelas consequências da Primeira Guerra Mundial. Esse contexto turbulento influenciou profundamente seu pensamento, levando-o a questionar as bases da sociedade e a buscar uma compreensão mais profunda da natureza humana. Ele foi um crítico ferrenho da sociedade industrial, argumentando que a alienação e a busca desenfreada por bens materiais levam à infelicidade e à perda do sentido da vida.
Esse texto tem a intenção de trazer conhecimento e informação para maiores aprofundamentos e melhorias pessoais, indico a psicoterapia como um dos caminhos para alcançar esse objetivo.
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