Você já percebeu que, por diversas vezes em sua vida, teve uma ideia semelhante ou complementar em algum projeto, e pensou ser coincidência? Não se surpreenda se, assim como eu, não criou nada, deixando passar o momento valioso à sua frente. Isso acontece com você, acontece comigo e com a maioria das pessoas, quando não entendemos que existem por aí pensamentos convergentes que podem criar uma sinergia incrível e avassaladora, que pode modificar o mundo!
Isso aconteceu comigo nos últimos quinze dias. Fui procurada por um amigo, reconhecido como um grande agente cultural da cidade, para colher dados voltados a um projeto gigante de censo e resgate de cidadania, que está começando a engatinhar no Arquivo Público e Histórico do Município – Oscar de Arruda Penteado.
Outra vertente do projeto é voltada à escrita, e consiste em resgatar tudo o que se escreveu nesta Cidade Azul até hoje, em qualquer tempo. Vale qualquer tipo de obra publicada, de todos os autores possíveis e imagináveis, dos mais reconhecidos aos ilustres desconhecidos, poetas, cronistas, jornalistas, historiadores e outros, que têm seus livros empoeirando-se nos sótãos da vida.
Inicialmente achei que era tudo coincidência, pois o estatuto da Academia de Letras Rio-Clarense – Alerc-sp, recentemente criada, prevê o resgate de todos os escritores e pessoas que atuaram na área cultural da cidade. A finalidade é, de alguma forma, perpetuar seus nomes e ações na história de Rio Claro, incluindo aí suas obras, muitas das quais caíram no esquecimento.
Mas a vida nos faz surpresas incríveis! No último domingo, 10 de maio, Dia das Mães, participei de um almoço realizado em “petit comitê” pela família do meu genro. Lá encontrei novamente um casal de amigos da família, com o qual me reuni diversas vezes, em ocasiões especiais. Eu os conheço por tio Zé e tia Ecleia, como são chamados carinhosamente pela minha filha, casada com o sobrinho do tio Zé.
Conversando com Ecleia sobre a Alerc, ela me disse, subitamente, que José Manoel de Arruda Penteado (o tio Zé), ali do meu lado, é filho de Oscar de Arruda Penteado, que tem vários livros publicados em Rio Claro, e que um prédio municipal aqui da cidade leva o seu nome. Enquanto me perguntava onde ouvi o nome Oscar de Arruda Penteado, ela completou:
— O prédio é aquele casarão antigo, ali da Avenida 3, esquina com a Rua 7, o Arquivo Histórico…
Expliquei a ela que o arquivo mudou de endereço, mas que leva ainda o nome de Oscar de Arruda Penteado como patrono. E só então a ficha foi caindo, e eu me perguntei: por que, como jornalista, nunca pesquisei quem foi Oscar de Arruda Penteado, uma vez que ele dá nome a tão importante instituição na cidade que tanto amo?
Minha expressão só podia ser de espanto! Então, o “tio Zé”, que mora em Minas Gerais e troca gostosas conversas durante nossos almoços ocasionais, quando visita à cidade, é filho de tão importante personagem da história de Rio Claro?
Repensei: Arquivo Público, resgate de autores e de obras, Oscar de Arruda Penteado, suas obras que, infelizmente, não me lembro de ter lido… Tudo isso é coincidência? Não! Tudo isso é convergência!
Então a conversa prosseguiu e seus livros publicados começaram a ser lembrados: Vultos da História Rio-clarense, Estudos Genealógicos, A Família Arruda De Rio Claro, Efemérides Rio-Clarense, Miscelânea, Coletânea Histórica, Rabiscos, Corumbataí: subsídio para sua história, O Estado do Amazonas: palestra que não se realizou, e Rio Claro, dentre outros.
Meu espanto foi tão grande que logo virei tiete do “tio Zé”, o décimo filho de doze filhos de Oscar de Arruda Penteado. Com direito a foto e tudo! Lembro, então, que também conheço e já tive oportunidade de conversar diversas vezes com seu outro filho, o Oscar Luiz da Silva Penteado, conhecido como Neno.
Sobre a vida de Oscar de Arruda Penteado, fico sabendo que se formou em Farmácia e foi proprietário da Farmácia Popular por 14 anos. Foi soldado constitucionalista, partindo depois para a vida pública, onde foi servidor na Prefeitura de Rio Claro, com funções no Arquivo Público e Histórico. Foi ali que ele, juntando documentos, passou a pesquisar e formou-se, didaticamente, historiador, iniciando seus escritos sobre a cidade que amava com profundidade.
Soube, também, que Oscar foi tesoureiro da Prefeitura Municipal, vereador, vice-presidente da Câmara Municipal e mais tarde candidato a prefeito! Um de seus irmãos foi Irineu Penteado, ex-prefeito em Rio Claro e Deputado Estadual, que deu nome a uma escola central da cidade.
O atual patrono do Arquivo, desde 1977, pensava criar um arquivo histórico, contando com o apoio de pessoas influentes, como o cineasta Roberto Palmari e Monsenhor Jamil. Entretanto, o projeto só foi aprovado em outubro de 1979 e o Arquivo Público do Município foi criado como autarquia.
Sinônimo da história de Rio Claro, Oscar de Arruda Penteado faleceu em 1993, aos 91 anos, e foi homenageado pelo então prefeito Dermeval da Nevoeiro Junior, como patrono do Arquivo Público Municipal, conforme Lei Municipal de 26 de março de 1993, criada pelo vereador Sérgio Carnevalle.
Imagine o alvoroço em que ficou meu feeling jornalístico! Para não monopolizar o assunto do almoço, pensei em marcar com ele uma conversa detalhada sobre a história de seu pai. Infelizmente, quando telefonei na segunda-feira, soube que não seria possível, pois ele teve um imprevisto de saúde, necessitando de cuidados médicos, e logo teria que retornar a Minas Gerais.
Refreei minha ansiedade e consultei o pai Google, bem pouco encontrando sobre Oscar de Arruda Prado. Entretanto, o fato também me deu a certeza de que, realmente, o universo conspira a meu favor, e que eu tenho uma missão muito grande pela frente: resgatar a história desse importante patrono do Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro, de quem tão pouco sabemos.
Coincidência? Não! convergência! Desta vez, não me deixarei enganar. O trem da história passa somente uma vez, e eu não posso perdê-lo!
Deixe um comentário