Era fim de tarde e eu estava sentada sozinha na praça do Departamento de Água e Esgoto – DAAE. Precisava de ar fresco. Não que houvesse algo específico me sufocando, mas às vezes a vida pesa, mesmo sem motivo claro. Pensava em tudo e, ao mesmo tempo, em nada. Só observava.
As árvores ali sempre me pareceram mais vivas do que apenas troncos e folhas. Imóveis, mas atentas, pareciam guardar segredos de quem passa, vê, chora, corre ou apenas senta, como eu.
E EU JURO QUE VI. Uma delas se mexeu. Não com o vento, não com o tempo. Mexeu com raiva. Falou comigo. Disse que não aguentava mais ver tanta gente andando apressada, tão ocupada em existir que esquece de viver. Me contou, com a voz amarga das raízes partidas, que dias atrás uma árvore amiga dela foi retirada dali — disseram que “atrapalhava” o caminho. Como se ela não fosse parte daquele chão antes mesmo das calçadas.
Enquanto eu absorvia aquela conversa improvável, vi ao longe um homem, devia ter seus cinquenta e poucos anos, dançando e cantando sozinho no meio da praça. E dançava mesmo! Com o tipo de alegria que não se compra. Confesso que fiquei parada, admirando. Como pode tanta energia? Eu, com meus 26, já me sinto cansada quase sempre.
Naquele momento, algo me bateu: eu deixo a vida passar. Às vezes respiro, mas não sinto. Me alimento, mas não saboreio. Caminho, mas não percebo o chão.
O homem se aproximou. Trocamos algumas palavras, ele riu alto e me contou que fazia aquilo sempre. Disse que dançar era seu jeito de resistir. Respeitei. Fiz amizade com ele como quem faz amizade com um espelho invertido — ele transbordava o que eu sentia falta.
Depois ele foi embora. E eu fiquei ali, com a árvore que ainda murmurava sobre a amiga arrancada da terra, como se fosse entulho.
Cheguei à conclusão de que o ser humano é mesmo meio doido. Planta com amor, rega com carinho e depois arranca com frieza. Como se tudo fosse provisório, inclusive o que é vivo.
Voltei para casa com uma paz estranha no peito. Talvez porque, naquela praça, eu tenha escutado duas verdades: a tristeza de uma árvore e a liberdade de um homem que dançava sem plateia. E, entre eles, encontrei um pedaço de mim que eu nem sabia que tava faltando.

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