Os poetas são pessoas estranhas.
Possuem muitas línguas
E vozes dissonantes.
Conversam com os espaços
E dizem as coisas do mundo às avessas.
De uma flor, só a cor e o aroma, não lhes bastam,
Falam dela por tantas manobras de palavras
Que a flor, ela mesma, nem mais se reconhece
Por tantos atributos, que de bela fica encantada
E desaparece em outros sentidos para torná-la única
E doar seu encanto para além de si mesma!
Assim também, esse jeito estranho dos poetas,
Acontece com um rosto, um olhar, um pássaro que voa, uma declaração de amor, uma desilusão amorosa, um beijo inesquecível, uma flor que desabrocha ou que desfolha e murcha, uma dor profunda, um pôr do sol, um amanhecer…
Tudo o que sentem, os poetas deixam decantar na memória, e que depois, em palavras encantadas se convertem.
Os poetas são mesmo, pessoas muito estranhas.
Há um estranhamento quando se valem de uma linguagem truncada para dizerem o que sentem,
Divagam por instantes quando tudo ao seu entorno se movimenta apressadamente,
Parecem o tempo todo conversar com as palavras que pululam na cabeça e não lhe dão sossego.
Por vezes, chega-se a pensar que são bisbilhoteiros,
Dizem coisas que sentimos, que nem suspeitávamos que sentíamos.
Em busca da melhor palavra ou do ritmo que pretendem no verso, não hesitam encontrar uma outra ordem de palavras para o seu propósito criativo.
Aliás, é bom que se diga, pela criatividade o poeta trava batalhas incansáveis entre a imaginação e os limites expressivos da palavra!
Assim, ele se desentende com o sentido primeiro e único da palavra, junta uma a outras para criar imagem de sensações, sentimentos e emoções que encantam os sentidos.
Muitos estranham o jeito estranho do poeta dizer as coisas que lhe atingem o âmago:
Suas várias línguas lhe permitem dar vários sentidos naquilo que dizem.
Qualquer entendimento equivocado deturpa sua fala e corre-se o risco de nada entender do que dizem.
Não é fácil conviver com um poeta!
Quase sempre ele desdiz o que se havia julgado entender.
Nunca deixa uma resposta satisfatória e nunca se sabe se o que se diz das suas palavras é o suficiente.
Possivelmente, nem mesmo ele sabe do alcance da língua que utiliza no seu ofício de encantar palavras.
Perdoem o poeta! Ele deixa no tempo que caminha no mundo, um testamento de conforto e alívio para outros caminhantes que seguem adiante. Às vezes, incita coragem, revolta e compaixão.
Recomenda-se não o procurar para desvendar os enigmas dessa fabricação de palavras,
Elas são lapidadas de tal forma que seu brilho se irradia sem o domínio do próprio poeta.
Saturadas de múltiplos significados, elas ampliam o sentido único e dão largueza ao pensamento sobre o mundo.
Estranhamente, os poetas parecem estar do outro lado das coisas existentes.
Inconformados com o que se mostra ou se oculta,
Os poetas e suas vozes dissonantes alteram a direção do olhar para sentir uma estranha essência desconhecida que comove por beleza ou compaixão.
Ainda que os poetas carecem de uma interlocução constante, primam pela solidão e distanciamento quando algo atinge seu âmago,
De alma sempre desperta para falar com sua língua estranha o que sentem.
Nesses momentos, recomenda-se evitar proximidade com os poetas,
Eles possivelmente estarão caminhando sobre as águas,
Colhendo estrelas na Via-Láctea,
Admirando a paisagem ao cair da tarde,
Como se ouvissem a linguagem secreta e muda,
Das coisas existentes ou dos sentimentos silenciados nas profundezas da alma.
Os poetas são muito sensíveis.
Qualquer fato ou acontecimento
Torna-se um turbilhão de palavras
Com as quais travam uma batalha incansável
Para traduzir a emoção desse sentir.
Livros, bibliotecas, beleza, desilusão,
Mágoas, singeleza, encantamento, compaixão
E uma lista interminável de temas e sensações,
Fazem parte do seu cardápio cotidiano
Para alimentar as emoções humanas
E dar a humanidade razão de existência!
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