Luz Maria era a mais velha de três irmãs, que moravam com o pai e a mãe em Punta Negra, cidade do interior do Peru. Na véspera de Natal, a mãe de Luz Maria a chamou e disse-lhe:
— Pegue um pedaço de pão e coloque na sacola de pano. Coloca esse cachecol em volta do rosto, que não temos nenhuma máscara, para que se previna do vírus, e vá até o povoado de Punta Hermosa, procurar pelo seu pai. Ele trabalhou durante toda essa semana na reforma da estrada e deve ter recebido o salário. Com certeza está em algum lugar gastando, bebendo e jogando até perder tudo o que ganhou.
Você sabe que o povoado fica a mais de três horas a pé e o pedaço de pão vai matar a sua fome. Procure pelo seu pai em uma casa que esteja tocando música e com algumas mulheres na janela ou em pé na porta.
Luz Maria obedecendo à sua mãe prontamente pegou a sacola com o pedaço de pão e tomou o rumo do povoado. Era uma criança fraca e desnutrida como as suas duas irmãs e a mãe. Deixavam muitas vezes de comer para que o pai, que trabalhava, pudesse se alimentar bem.
Caminhou por mais de três horas naquele sol que prometia uma boa chuva e, no meio da tarde, conseguiu entrar pela rua principal, e em alguns minutos avistou uma casa como a mãe tinha descrito. Pediu licença para as duas moças da porta e entrou, perguntando pelo pai. Não estava lá -lhe informaram.
— Talvez esteja na casa ao final da rua.
Luz Maria se dirigiu para a outra casa. Foi entrando, porque nessa casa não tinha ninguém à porta. Perguntou pelo pai no balcão, e mesmo antes de ter a resposta, o seu pai gritou de uma mesa no canto, onde jogava cartas com outros senhores:
— O que está fazendo aqui Luz Maria? Levantou-se e foi em direção à filha, pegou-a pelo braço e, praticamente, a arrastou até os fundos da casa.
Entrou em um quarto vazio, e já tirando o cinto, aplicou-lhe uma surra, dizendo que ali não era lugar de uma menina como ela entrar. A tempestade prometida chegava. Luz Maria não entendeu porque ela não podia ficar ali, se o seu pai estava lá. Depois da surra, o pai fez Luz Maria sair por uma porta dos fundos, e mandou-a tomar o rumo de casa. Luz Maria esqueceu-se de pegar o cachecol que caiu enquanto o pai lhe batia. Debaixo daquela forte chuva, atravessou a rua, correndo até o abrigo da loja em frente. No caminho viu uma carteira sendo arrastada pela correnteza e só conseguiu pegá-la porque parou na grade de um bueiro. Já protegida da chuva, abriu a carteira e viu que tinha o endereço do dono e muitas notas que ela sabia ser uma quantia razoável de dinheiro. Entrou na loja e perguntou pelo endereço ao senhor que atendia ao balcão.
— Esse endereço é do povoado que fica há mais de uma hora de trem daqui — respondeu.
Então Luz Maria entendeu que aquilo podia ser um presente para resolver o problema de sua família. Comprou mais uma sacola e procurou por tudo aquilo que mais precisavam em casa, inclusive alguns presentes para a mãe, para as irmãs e para si mesma. Pagou tudo aquilo e ainda sobrou muito dinheiro para levar e dar à sua mãe.
Feliz como estava, não se intimidou com a chuva e foi embora, de volta para casa, mesmo porque tinha medo que o pai a visse ainda por ali. Caminhou novamente por um tempo maior, pois as sacolas estavam bem pesadas e, se cansando, parou por algumas vezes no trajeto.
Quase noite foi chegando, e não via a hora de contar à mãe o acontecido. A mãe vendo Luz Maria com aquelas duas sacolas cheias e pesadas, correu ao seu encontro para ajudá-la. Entrando pela casa, Luz Maria foi colocando tudo sobre a mesa, sob os olhares de espanto das irmãs e da mãe.
À medida que colocava as coisas, ia também contando sobre a carteira e a surra que o pai lhe tinha aplicado. A sua mãe ficou indignada com aquilo e procurou, além de confortar a filha com um banho quente, coloca-la para descansar na cama. Aquela chuva não fez bem para Luz Maria, que começou a tossir, e em seguida, a mãe, colocando a mão sobre sua testa, percebeu que estava com uma febre muito alta. Deu-lhe um chá e pediu às irmãs que deitassem uma em cada lado de Luz Maria para aquecê-la.
Luz Maria foi piorando, a tosse aumentando, sua mãe foi ficando desesperada, porque não tinham ninguém que as pudessem socorrer naquele fim de mundo. A mãe acendeu uma vela a Nossa Senhora do Carmo e, junto com as filhas, rezaram por meia hora. Infelizmente, não aguentando a febre e a tosse, Luz Maria, agonizando chamou pela mãe e, segurando em suas mãos, deu um último suspiro.
As três se ajoelharam ao lado da cama e a prantearam com uma dor imensa que não cabia em seus corações. Arrumaram Luz Maria para ser velada em sua cama mesmo, e ficaram ao seu lado. No começo da madrugada ouviram barulho na porta e viram que o pai chegava, bêbado, e sem entender o que estava acontecendo, foi até o quarto e não acreditou no que viu.
A mãe de Luz Maria não dirigiu uma única palavra ao marido. Dizem que ele saiu pela porta deixando-a aberta e foi pelo mundo, andando sem rumo, de tão louco que ficou, e nunca mais foi visto por alguém naquele vilarejo.
Durante a noite, enquanto velavam Luz Maria, apareceram alguns anjos para confortar o sofrimento daquela perda.
Antes que amanhecesse disseram que levariam Luz Maria com eles e que a colocariam em um lugar especial. As três ficaram confortadas e felizes com o destino final de Luz Maria.
A lenda conta que ela foi transformada pelos anjos na estrela mais bonita que existe no céu, e o melhor de tudo isso, é que toda família que passa por necessidades, quando chega uma semana antes do Natal, ao pedirem à estrela Luz Maria, conseguem algum trabalho e dinheiro para poderem comprar suprimentos, e até algum brinquedo para os filhos.
A estrela Luz Maria brilha até hoje, e se você tiver compreensão e pureza em seu coração, ao olhar no céu, com certeza poderá vê-la. E se fizer algum pedido, será atendido.
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