O dente do juízo nasceu!

Aos trinta anos percebo que pouco sei, mas se comparado ao passado aprendi um bocado. Sensações e sentimentos que já foram tormentos, agora são risadas, lembranças passadas. 

A impulsividade tornou-se motivo de saudade, pois já não tenho mais tanta coragem de agir sem pensar… talvez não seja coragem, talvez seja o bom senso invadindo a minha consciência. 

Os amigos vão se afastando, a família se distanciando, os amores vão cansando. 

Ah, os amores, esses sempre foram o meu norte, mas hoje um fora já não me devora, o não, não me deixa no chão. Levo a vida com mais leveza, apesar do peso dos trinta. Mas que peso é esse na idade do sucesso? Sucesso de quem? O meu é que não é.  

Talvez um recomeço seja interessante, novos ares, novos mares… 

Divago entre o passado vivido e o futuro dividido entre expectativas, sonhos e possibilidades. E o presente? Cadê ele?

O presente é o aqui e o agora, por isso valorizo mais a minha vida mesmo sabendo que não sou e nunca serei uma super-heroína, não acabarei com a fome, nem a desigualdade social, muito menos com a violência e quando me dei conta disso já tinha me formado na faculdade de Direito, ou seja, salvar o mundo não cabe mais a mim… esse peso eu deixo para os mais entusiasmados e corajosos, não que eu esteja fugindo do problema, na verdade, sinto muito por tudo isso, mas se eu não aprender a entender meus limites, não conseguirei viver de forma pacifica comigo mesma.

Eu não sei se eu realmente amadureci ou se meu dente de juízo deixou-me mais serena e racional. Então agora é a culpa do dente?

Não, agora sou eu que me entusiasmo menos, pelo fato de que “qualquer coisa” já não basta, preciso de outros estímulos para conseguir seguir adiante em todos os setores da minha vida, seja emocional, financeiro, artístico, entre outros.

As ciladas aparecem sorrateiramente e muitas vezes caímos nelas, talvez por insegurança, baixa autoestima, carência, porém quando percebemos o nosso real valor nos damos conta de que não precisamos nos contentar com tão pouco apenas para satisfazer uma vontade momentânea determinada pela sociedade.

Os trintões que me perdoem, mas não estamos nem perto da linha de chegada, estamos na travessia da estrada, mesmo que conturbada, vamos caminhando, nadando, correndo, pedalando, saltando, caindo e vivendo. 

Quando chegamos aos trinta, estamos parcialmente calejados em relação às tristezas, melancolias, mazelas humanas; por isso, é bom dizer que não precisamos perder a poesia de nossas vidas ao amadurecermos.

O voo da borboleta rápido e incerto ainda pode nos encantar, o cheiro e as cores das flores, o vento no dia ensolarado, o sorriso de um amigo, a risada do amado(a), a joaninha que pousa pertinho de nós, o cachorro balançando o rabinho, o gato amassando o pãozinho em nós, a sensatez de nossos pais, um salto de paraquedas, uma viagem mais que esperada, o deitar no dia frio embaixo das cobertas, praticar uma atividade física que gostamos, a arte que é nosso colete salva-vidas, o entusiasmo das crianças, o abraço dos avós, a saudade da infância, o sabor daquele doce, no meu caso o pavê da vovó, enfim, chegar aos trinta é perceber que temos um grande caminho a percorrer, mas que nas sutilezas do cotidiano podemos compreender que sempre há espaço para novas possibilidades e aventuras.

E é nesse espaço entre o comum e o extraordinário que a vida se revela inteira: nos olhos de quem nos ouve com atenção, no café compartilhado sem pressa, na troca silenciosa de olhares que dizem tudo.


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