Quando criança, eu queria ser herói. Acho que todo mundo um dia sonhou em ter superpoderes, fazer coisas impossíveis a nós humanos, como voar, correr mais rápido até mesmo que o Usain Bolt, o homem mais veloz do mundo até o momento em que escrevo esse texto, e até destruir meteoros com a mão ou com a força do pensamento.
Eu lembro que sempre quis ser o Superman. Não tinha a maldade de perceber que ele usa a cueca por cima da calça, mas me encantava o fato dele ser superior em tudo, exceto quando estava perto da tal Kriptonita. E me encantava ainda mais ele ser super em tudo e deixar perceberem esse lado apenas quando estava sem os óculos. A lógica diz que ele usa isso como disfarce, mas eu gosto de pensar metaforicamente, entendendo que as lentes o ajudam a separar o Kal-El do Clark Kent.
Certa vez estava falando com uma amiga e ela disse que nos identificamos com os heróis conforme o que imaginamos que somos, das projeções que fazemos ao nosso respeito. Acho que, de certa forma, todos somos meio Superman às vezes e só nós sabemos o que tem por trás dos nossos “óculos”. Aprendemos a separar o público do nosso privado, apesar dos dois se misturarem e serem parte de um só ser.
E é esse o ponto. Às vezes precisamos deixar algumas coisas de lado ou em lugar de pouca importância, seja no público ou no privado, ou, nos dois, para seguir em frente, usando o que passou como referência futura e lição para outras pessoas. É o que chamamos de superação, a base do ser resiliente.
São muitas as situações que exigem de nós talvez mais do que imaginamos conseguir aguentar e tenho certeza que você que está lendo esse texto pode listar diversas vezes em que precisou usar esse superpoder.
E se quando criança eu via um super-herói como um ser imbatível, hoje eu entendo de forma diferente. Ser herói, no fundo, é superar os dramas pessoais, os medos, as incertezas, as crenças, as defesas automáticas, não temendo o que está por vir e lidando com as consequências de cabeça erguida.
Superar, por outro lado, também é uma forma de evoluir. É fazer diferente, melhorar, ser maior do que imaginávamos. É quando colocamos para fora nossa força genuína e seguimos em frente, derrotando nossos fantasmas e às vezes transformando frustrações em oportunidades. Até mesmo os heróis das histórias saem mais fortes depois das batalhas e, quando aparentemente estão perdendo as forças, encontram energia para fazer melhor e vencer.
Afinal, no fundo, ser herói não é só usar um uniforme ou ter um escudo, ou símbolo no peito. Ser herói é conseguir ser maior que si mesmo em algum momento e quantas vezes forem necessárias. Dessa forma, como canta o David Bowie em uma livre transcrição pessoal, todos podemos ser heróis mesmo que seja apenas por um dia.
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