Naquela época, éramos os caras legais. Os três mosqueteiros: Marly, Pedro e eu. Inseparáveis e, também, segundo os professores, “a turma do fundão”, mas jamais desrespeitamos os professores. Além do bom senso de, no geral, obedecermos às exigências dos mestres, o nosso grupo tinha notas boas; uma vantagem que nenhum outro grupo tinha.
No último ano do Ensino Médio, muitas coisas engraçadas aconteceram, a esse extraordinário e improvável grupo, dentro e fora da escola, mas o que me lembro melhor foi certa aula de matemática em que estavam todos sentados em duplas — exceto eu.
A professora, a Severa Dona Benta, era conhecida por todos na escola como a professora mais rigorosa. Com seus cabelos presos num coque e rugas começando a marcar o rosto, emoldurando-os com um olhar penetrante que intimidava até os alunos mais desobedientes. Obrigara-me a ficar sem par e, por algum motivo, próximo da porta, eu estava quieto, já que estava sozinho e a atividade era para nota. Marly conversava e ria com o Pedro logo atrás, repentinamente a professora dá um grito e diz:
— Vocês estão falando muito! — Apontando para mim; continuou — Saia já daí e vá para outro lugar!
A sala ficou em silêncio por um instante e todos olharam para mim. Eu fiquei pasmo! Meus amigos, ainda mais. Era tão incompreensível como o raciocínio da professora levara a concluir que o culpado da conversa alheia era eu. Saí e fui ao lugar designado por ela, os dois continuaram a conversar. No fim da aula juntamo-nos novamente e rimos do disparate da professora. Durante aquele ano, cada dia no colégio parecia trazer uma nova aventura para a nossa turma. Essas lembranças fazem-me sorrir até hoje.
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