Chico, o pato brigão

Era uma vez um pato chamado Chico. Esta crônica bem que poderia começar assim, pois a história do pato Chico assim será contada um dia, tão grande é o carisma, assim como sua fama de brigão.

Mas, o pato Chico é presente, portanto, ele não “era”: ele “e” O Chico existe e vem levantando polêmica sobre sua excêntrica maneira de ser. Foi alvo de reclamações à imprensa, onde ganhou espaço e até charge nos últimos dias!

A fama do pato Chico começou com a reclamação de uma mãe irada à imprensa, de que um pato havia atacado sua criança no Lago Azul. Pelo que sei, a mãe pediu também que os patos fossem retirados do local.

Muita gente defendeu a manutenção dos patos no Lago. Afinal, o único pato brigão em toda história é o pato Chico…

E, por outro lado, tirando os patos do Lago Azul, tirariam também grande parte de sua beleza. É simplesmente divino ouvir e poder apreciar as perfomances dos patos no Lago, quando se aproxima a hora da refeição.

Como se fossem sintonizados por radar, eles vêm em grupos perfeitamente sincronizados, em fileiras, em direção à ilha, como se participassem de um espetáculo de balé, na mais perfeita coreografia.

Adoro crianças e não tiro a razão da mãe reclamante. Por muito menos que isso, um cão foi condenado à morte, ainda esses dias, por um tribunal da Tanzânia, na África. E olha que o cão nem sequer tinha culpa no cartório…

O cão havia recebido de seu dono o nome de “Imigração”. O juiz considerou o nome uma ofensa ao Departamento de Imigração do Estado. Resultado: “imigração”, um vira-lata de um ano, foi morto com um tiro. E seu proprietário, John Kachela, foi condenado a seis meses de prisão.

Mas a acusação contra o Chico não chegou a tanto, pois todos sabem que ele é um pato brigão, mas de boa índole, chegando até mesmo a dispensar certo olhar de carinho às pessoas mais íntimas, como seus tratadores do Lago Azul.

Afinal, o Chico não é humano, mas tem sentimentos. E qualquer pato que se preze não gosta de ser maltratado. E o Chico não gosta nada, nada, dos safanões que leva dos mais idosos quando vai “espiar” suas atividades mais de perto…

E depois, para dizer a verdade, o Chico não é lá muito chegado a puxões de penas ou abraço apertado das crianças que o atraem com guloseimas, sem entender que ele é frágil e que carinho de criança às vezes machuca…

Não sou testemunha ocular do que ocorreu com a criança “atacada” pelo Chico lá no Lago. Só sei que passo perto dele e de outros patos frequentemente, durante minhas caminhadas pelo local e nunca senti ou presenciei a agressividade denunciada. 

E nem mesmo posso chamar o Chico de indefeso, pois já me contaram que ele, com aquele seu jeitão engraçado, tem o hábito de bater os pés quando está bravo. Só que, diante de uma pequena intimidação, lá vai ele balançando suas penas, internas e externas, à procura de um aconchego maior, no meio de outras tantas penas…

Afinal, o Chico é apenas um pato… Um pato que vai entrar para a história, mas apenas um pato. E entre ataques e penas, a maior pena seria tirar os patos do Lago Azul, onde inspiram vida, beleza e harmonia a todos que passam.(18/03/1998)


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