Poemas

  • Diversão

    pretensões à parte,sigo sobrevivendofazendo arte.

  • Da existência de Deus

    Quando todos os diaste forem mausolha pro céuverás uma Luzirretocávelque vivealém dosséculose dos ponteirosfalhos dos relógiosque roubamdo tempoo que ele temde mais sagrado.

  • Sucessão

    Aquilo que senti na carnenão acabou.Busco corrigir-medos excessose das faltasque levaramao finalprecocedas roupasde usar em casae do cheiro das florescolhidas às pressas no quintal.O tempo caóticonão me deixouver a reação dela,mas as floresestão lá,prontaspara ojuízofinal.

  • Cinza

    concreto-fumaça-grafitetudo se misturae nada vejoprovo do sabor da uvaà mesa de concretosolto o grafite no papellá fora, o homem gritacorro para versinto o vazio daquela gargantaem plena avenidaeu falo de antemão:onde há fumaçahá fogo.

  • Contornos

    Vê, da janela, o contorno obscuro daquelea quem mais ama.Toma o café com pão, obtido a centavos,e retrocede diante da vida.É engolido pelo buraco negro das indecisões.Adia o banho,os outros filhos,a reunião.O banho, disfarça com roupa limpa.Os outros filhos estão na creche,comendo restos do capital alheio.A reunião? Dá um jeito de chegar.Sabe dos perigos disfarçadosdentro…

  • Centro da cidade

    Subversão em brancotranscorre vias e veiasda minha rua.Veias interligadassaltam aos olhoslatino-americanosdos que por ela passamPaciência. Texto inspirado em Enroscados III, obra da exposição Entroncados, Enroscados e Estirados, da artista carioca Ana Holck.

  • Breve história de Sofia

    Esconde o nomeda tua paixãoequilibra o fascismoda tua salivaporque o mundotem ouvidos.Não transponhaos limites da tuavontade.Usa a letra discretapara que ninguémsaiba o paida tua criança,sob pena de serengolida por tuas ideias.A sociedade te querRecolhida.Ensaia a tua hipocrisiae vista nelacores cinzentase o bebê crescerásem que ninguém vejae tuas raízes serãointerrogadasbem como as geraçõesdo século passado,antes de…

  • Sem freios

    Trabalho à luz do diameus desejos.É uma guerra constanteonde escorrem medosprogressivos que me condenamà fogueira eterna,em todas as instânciasde minha subjetividade.Fui convidada a mergulharna ideia patética de amor e me vi obrigadaa crer em almas gêmeas quando a minha própriafoge do início de todas as modernidades.Minha equação está sem freios-Não perca seu tempocom uma ética…

  • Do princípio ao fim

    O primeiro movimento da linguagemÉ ouvir os temores da destruiçãoDo corpo da palavra Ao primeiro movimento da palavraDeve-se ouvir os temores da notíciaPolida SozinhaPendurada na parede À mesa do almoço,A notícia é mal-interpretada,Mal digerida,Quase reduzida Teria a palavraPouco tempo de vida?