Poesias

  • Lugares inusitados

    Estou a olhara leitura do Forae a tecer uma escritaenfurecida, sem emprestarferidas e mágoas a quemquer que seja. A fúria é minhae tenho o direito deexercê-la pela potênciaque emana, sutilmente,nas estrelinhas que mecosturam. O não-lugar é um vazioque esmigalha a folha brutae deixa a escrita firme,Absoluta. Esse vazio, cheio de si,me destempera.

  • Coleção

    Guardo em cornucópiaA palavra portuguesaQue tem sabor de frutaSuculentaE sintonia com meu peito. Guardo um tesouroEm meu peitoSubmisso e animalescoCuja matéria friaÉ inertee tempo. O tempo mostra-seFerrugem em contatoCom as lágrimas de um anjo. Sou um catalisador de reações.

  • Com o tempo

    Os vulcões fumamA imensidãoDe minh’alma. Os vulcõesLevam meusPensamentos. ModorrentaOnda de ventoQue, sem vulcões,Tira-me o firmamentoE cá estou, sem barco,Nem vela, Nem lamento.

  • Alma livre

    Cada carta endereçadaÀ RazãoÉ um hinoAo paradoxo Saio do quartoE vejo o barulhoLá fora São estranhos orvalhosQue secam a noiteE buscam dormitórioNa mente distorcida,Mente purgatório. A Razão moraEm meu peitoSem entranhas A Razão não tem sentidose sozinho choroChorarás comigoOu depois que te imploro?

  • Desocupação

    Carrego no peitoA fumaça,A tensãoDa sobrecargaDe um AmorSem Razão. Um Amor sem RazãoÉ a peste que contaminaTodo ato de Amor. Arranco de meu peitoA má sorte de um amorDesse jeito.

  • Angústias de Antero

    A falta de bom-sensoA andar pela ruaDescansa no poemaQue a vida desfiguraE o poeta de bom-gostoRenuncia à palavraDa verdade quase nua Era a boca de Antero,Verdadeiro socialista,Despejava no escuroUma vida idealistaFingiu-se de cachorroE desceu com precisãoA escada da Ilusão Na mão direita de DeusRepousou a alma tristeSecaram-se os órgãos,Mares e as bocas todas Dormiu AnteroO…

  • Um poeta de bom-gosto

    O bom-gosto do poetaRedesenha a sua preceApresenta com bom-sensoA palavra que enalteceO prazer da humana carneQue o pecado desconhece O bom-gosto do poetaÉ lançado à própria sorteEngrandece o opostoRedesenha a quase MorteTraz à tona a liberdadeDe fazer um novo corte O bom-gosto do poetaÉ o monstro que escutaAs palavras do enredoQue traduzem a disputaO bom-senso…

  • Hora marcada

    Raios de angústiaTocam o homemDe bom-gostoE o sétimo sentidoRetira-lhe o bom-sensoNo silêncioQuase oposto.

  • Mulheres de Antero

    Escreve a figura de um anjo,pura suavidade,impalpável,negação do tato,do ópio. Experimenta o bálsamopara os olhos,cuidadosamentedesenhadospara vero invisívele o indizível. Revolucionário,recusa-se aoóbvio das curvasdesenhadas pelo pecadovespertino,cheio de más intenções. A escritaempalideceo que o espelho evidencia:a cintura calorosa e finadaquela mulher pequenina.

  • O tempo

    O tempo sempre existiu, era livre. Corria solto, feito menino atrás de bola.Inventaram o relógio e o tempo mudou.Ficou preso aos segundos, minutos e horas.Então os homens o controlaram, e se estressaram.