Outras Vozes
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Mel
Todos os dias, antes mesmo do sol espreguiçar no céu, ela já está de pé — ou melhor, de patas — me despertando com seu miado insistente. Mel não dá trégua. E não pense você que é qualquer miado, não. É uma ópera matinal exigindo água — mas não a água da tigela, jamais. A…
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Despertar
O homem triste sentado no banco parecia não ver mais nada ao redor. Olhava para o chão, perdido em pensamentos que só ele conhecia. Enquanto isso, uma criança passava feliz com sua bicicleta, rindo alto, como se o mundo fosse só dela. A alegria era tão leve que parecia voar com o vento. Carros e…
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Minha primeira crônica
Era fim de tarde e eu estava sentada sozinha na praça do Departamento de Água e Esgoto – DAAE. Precisava de ar fresco. Não que houvesse algo específico me sufocando, mas às vezes a vida pesa, mesmo sem motivo claro. Pensava em tudo e, ao mesmo tempo, em nada. Só observava. As árvores ali sempre…
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O jogo que todos nós jogamos (sem saber)
Você não é a vítima. E eu posso provar. Essa frase pode soar estranha, até insensível. Pode provocar incômodo, negação, raiva. Mas não estou aqui para invalidar o seu sofrimento — muito menos para culpá-lo. Minha intenção é outra: apontar uma armadilha sutil, silenciosa, quase invisível, mas incrivelmente poderosa. Uma estrutura psicológica que rege nossas…
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Aurora se perdeu…
Aurora se perdeu na noiteseu vulto confundiu-secom a lua entre os faróiso corpo um fio de sanguetingiu o asfalto depois do açoiteAurora envolveu-se para sempre entre os lençóisAurora se perdeu… Aurora se perdeu na tardeagarrou-se ao por do sole entre montanhas se escondeubiografia não encontradasó o aceno arde o eco da triste cançãosopra a melancolia…
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Denunciando
essa mulher em vida foi leviana sinuosa e analfabetados caminhos que traçam os corações do planetaem terras abajo terras, rio abajo rionão crescerá o jasmim da infânciacrescerá poesia queimada ao solmuda, fundida com pedras, da cor de lavanda e areia vigiando o tempo de mãos dadas com eternidadecolherei no efêmero o pó que soprei em…
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Analfabeta
permito que os nossos corposdebrucem sobre a melancólica pedra do esquecimentodesnudados de ilusões e da tentação lasciva do efêmeroo que foi passado é canto de rouxinol, para servir de alentoao meu insaciável apetite de emoções,estética e ética eu que sou analfabetados caminhos que traçam os corações dos homensdos caminhos que traçam os corações dos animaisnão…
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Não sei
Se abrir as horas vou perceber que fui pisoteada, anestesiaram-me com produtos que eu jamais necessitei, por estar andando por essas vias dos humanos sou arrancada facilmente do meu lugar-comum e jogada no discurso do Estado: sim presa mansa desse monstro. Devo voltar a leitura de Nietzsche? E apostar no potencial de criação e de…
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Dia qualquer
O requinte que passo esses dias tem a impressão de um olhar contemplativo de Alfredo Volpi esculpindo nas tintas suas bandeirinhas. Por mais que essas sombras da estética se desgastam em combinações de cores e traços, as linhas em viés não alcançam esses dias de pura existência. A branda visão esquelética do meu ser deixa…
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Seria o amor, um sobrevivente dos tempos contemporâneos?
A situação atual do setor de casamento e divórcio continua sendo marcada por grandes transformações impulsionadas por diversos fatores sociais, culturais e legais. Observa-se um declínio no número de casamentos em muitos países, incluindo o Brasil. As pessoas estão se casando mais tarde na vida, optando por construir suas carreiras e alcançar estabilidade financeira antes…
